A morte brutal da professora Soraya Tatiana Bomfim, de 56 anos, em Belo Horizonte, não é apenas mais um caso policial — é um alerta contundente sobre as formas silenciosas e letais que a violência doméstica pode assumir. Assassinada pelo próprio filho, Matteos França Campos, de 32 anos, a tragédia chocou o Brasil e levantou um debate jurídico e social fundamental: por que o crime foi classificado como feminicídio mesmo se tratando de mãe e filho?
O crime que parou Minas Gerais
Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, a tensão entre mãe e filho vinha se acumulando há meses. Dívidas com apostas online e empréstimos consignados geraram discussões constantes. No dia do crime, a discussão chegou ao ponto mais crítico.
De acordo com as investigações, Matteos estrangulou a mãe, colocou o corpo no porta-malas do carro e o abandonou sob um viaduto em Vespasiano, na Grande BH. O ato brutal ganhou repercussão imediata nas redes sociais e na mídia, gerando comoção e indignação.
Feminicídio: entenda por que a lei se aplica
A delegada responsável pelo caso, Ana Paula Rodrigues de Oliveira, foi categórica: trata-se de feminicídio. Pela legislação brasileira, feminicídio é o homicídio de uma mulher motivado por sua condição de gênero, englobando também a violência doméstica e familiar.
Ao contrário do que muitos pensam, a Lei Maria da Penha não se limita a relacionamentos amorosos ou conjugais. O ponto central é a situação de vulnerabilidade da vítima e a motivação de gênero. Isso significa que, mesmo sendo um crime cometido por um filho contra sua mãe, o enquadramento legal pode — e deve — ser aplicado quando há ligação com a condição de gênero e contexto de violência doméstica.
Consequências legais severas para o autor
O enquadramento como feminicídio traz impactos diretos no processo e na pena. O Código Penal prevê perda do poder familiar para quem comete crime doloso contra ascendente ou descendente. Além disso, crimes de feminicídio têm prioridade de tramitação na Justiça, acelerando o julgamento.
A pena também é mais severa: o feminicídio é uma qualificadora do homicídio, aumentando o tempo de prisão. Isso significa que, juridicamente, o caso será tratado com o máximo rigor, como exige a gravidade da conduta.
Lições urgentes e prevenção da violência
O caso de Soraya Tatiana Bomfim escancara uma realidade que ainda é subestimada: a violência doméstica não está restrita a relacionamentos conjugais. Ela pode nascer dentro da própria família, alimentada por conflitos financeiros, dependência emocional ou comportamentos abusivos.
A tragédia reforça a necessidade de políticas públicas efetivas, canais de denúncia acessíveis e educação sobre igualdade de gênero. É essencial que sinais de abuso, por mais sutis que pareçam, sejam levados a sério e denunciados antes que evoluam para casos irreversíveis.
Soraya agora se torna símbolo de um alerta que não pode ser ignorado: a violência contra a mulher pode vir de onde menos se espera, e combater isso exige vigilância, empatia e ação imediata.
