Na última terça-feira (19), o Afeganistão foi palco de uma das maiores catástrofes rodoviárias de sua história recente. Um ônibus que transportava deportados do Irã explodiu na província de Herat, após colidir com um caminhão-tanque e uma motocicleta. O resultado foi devastador: 76 mortos, entre homens, mulheres e crianças, e apenas três sobreviventes em estado crítico. As imagens chocantes, amplamente divulgadas nas redes sociais, revelam um veículo consumido pelo fogo e sobreviventes em completo desespero diante da tragédia.
O pesadelo da viagem forçada: fuga interrompida pelo fogo
O ônibus havia partido da fronteira de Islam Qala, rota de milhares de afegãos que, nos últimos meses, têm sido deportados em massa pelo governo iraniano. A promessa era de um recomeço em Cabul, mas a esperança foi substituída pelo terror quando a colisão desencadeou uma explosão de proporções fatais.
O porta-voz do governo de Herat, Mufti Mohammad Yousuf Saeedi, classificou o episódio como “uma das maiores tragédias rodoviárias do Afeganistão”. Poucos sobreviveram, e os relatos são de gritos de socorro abafados pelas chamas. O que deveria ser apenas mais uma etapa do retorno forçado ao país natal terminou em um dos capítulos mais dolorosos da crise afegã.
Vítimas sem identidade: famílias mergulham na incerteza
Grande parte dos passageiros não carregava documentos. Isso porque a deportação ocorreu de maneira abrupta, sem tempo sequer para reunir pertences básicos. Agora, a identificação dos corpos carbonizados se tornou um desafio para equipes médicas que operam em condições precárias.
Familiares aguardam em filas intermináveis, tentando reconhecer vestígios de roupas, objetos ou qualquer detalhe que traga certeza em meio ao luto. Voluntários relatam a dor de ter que informar mães, esposas e filhos sobre a impossibilidade de sepultar seus entes com dignidade. A ausência de estrutura para lidar com emergências desse porte expõe a vulnerabilidade de um país já fragilizado por crises sucessivas.
Estradas fatais e promessas vazias de autoridades
As estradas afegãs sempre foram palco de tragédias. Infraestrutura deteriorada, veículos em más condições e motoristas exaustos criam um cenário explosivo para acidentes fatais. Ainda assim, pouco foi feito para mudar essa realidade.
Após o desastre, autoridades anunciaram a abertura de uma investigação oficial. Contudo, a população reage com descrença e revolta: tragédias anteriores foram rapidamente esquecidas, sem responsabilizações claras ou melhorias concretas. A sensação é de abandono — tanto por parte do governo local quanto da comunidade internacional.
Deportações em massa e a indiferença mundial
O acidente de Herat vai além de um episódio rodoviário. Ele é o reflexo de um drama humano ampliado pelas deportações em massa do Irã, que em apenas 16 dias devolveram mais de 500 mil afegãos ao país de origem, muitos sob acusações frágeis de espionagem. Homens que sustentavam suas famílias em trabalhos temporários, mulheres que buscavam abrigo contra a opressão e crianças que jamais conheceram estabilidade foram lançados de volta ao epicentro da instabilidade.
A tragédia evidencia um silêncio internacional ensurdecedor. Enquanto famílias choram seus mortos, líderes globais mantêm discursos distantes e nenhuma ação prática. Para as vítimas de Herat, a viagem de retorno não significou um novo começo, mas sim o fim trágico de uma jornada marcada por dor, exílio e abandono.
